No dia 8 de Novembro visitámos a APF (associação de planeamento familiar) com o intuito de entrevistar uma das técnicas que lá trabalham... Esta associação tem em curso um projecto designado roteiro 3,4,5,6, que pretende abordar os objectivos de desenvolvimento do milénio 3,4,5 e 6 como indica o nome do projecto. Assim, na entrevista que realizámos à técnica da APF, focámos apenas esses objectivos, esclarecendo todas as nossas pequenas dúvidas.

Síntese da entrevista a Tânia Pinto, técnica da APF
A APF, Associação para o Planeamento da Família, é uma IPFF com sete delegações distribuídas por todo o país – continente e ilhas – e com sede em Lisboa. Esta associação trata, sobretudo, dos Direitos Sexuais e Reprodutivos (DSR) e questões ligadas à Saúde Sexual e Reprodutiva (SSR).
O projecto Roteiro 3456 é um projecto focado na “pressão política”. Portugal é um dos 187 países que na Cimeira do Milénio, realizada em Setembro de 2000, comprometeu-se na ajuda para o desenvolvimento. Em 2009, Portugal deveria ter cedido 0,7% do seu PIB para que esse dinheiro fosse investido em países em desenvolvimento para melhorar as condições de vida das populações, contudo, Portugal ofereceu apenas 0,23% do seu PIB, o que convertendo em milhares de milhões de euros é muito inferior ao valor inicialmente estabelecido.
Neste sentido, no âmbito do projecto Roteiro 3456, a APF tem realizado formações e conferências com jovens decisores técnicos e políticos, consciencializando-os para a necessidade de cumprir este compromissos e alertando-os para as áreas que ainda é necessário intervir em Portugal, nomeadamente a saúde. Estes jovens futuramente terão um papel crucial, uma vez que serão representantes activos da opinião de todo um país, e defenderão os nossos direitos, suprimindo as nossas necessidades.
Recentemente a APF organizou uma campanha que consistia na recolha de 5.000 assinaturas em postais alusivos aos ODM’s 3,4,5 e 6 e posterior envio para a Assembleia da República. Mais uma vez, tendo em vista a pressão sobre as entidades governamentais no cumprimento destes objectivos.
Felizmente, Portugal é um país industrializado e com um elevado nível de vida, quando comparado com os países em desenvolvimento.
Tânia Pinto, afirma que a política é indubitavelmente o principal factor que determina a mentalidade de uma comunidade. As sociedades regem-se pelas leis e normas estabelecidas na constituição. Se esta preconiza valores como o respeito e a igualdade, os cidadãos tenderão a respeitar-se mutuamente e procurarão atingir a equidade. Se por outro lado, esta privilegiar um determinado grupo social ou étnico, haverá um maior número de actos de intolerância e discriminação no seio da comunidade.
Em Portugal – um país onde predomina o catolicismo - a religião também poderá influenciar as nossas mentalidades, contudo, a técnica da APF realça “vivemos numa sociedade laica o que permite que as pessoas tomem as suas próprias decisões e não se prendam apenas aos cânones da Bíblia.” Acrescenta ainda que “há uma negociação entre o «eu» e aquilo que a religião diz”.
Quando interrogada acerca da discriminação das mulheres em Portugal, Tânia Pinto, enfatizou as discrepâncias salariais e no acesso ao emprego entre homens e mulheres. Na sua opinião, também a noção de que as funções das mulheres restringem-se às actividades domésticas e familiares ainda está muito presente no pensamento da sociedade portuguesa. Embora tenhamos assistido a um significativo progresso, as mulheres ainda se subordinam frequentemente aos homens.
No que diz respeito à contracepção, também aqui encontramos desiguais distribuições de tarefas – as mulheres assumem, na grande maioria dos casos, a responsabilidade pelo uso de métodos contraceptivos e questões relacionadas com o planeamento da família.
Tânia Pinto relatou também alguns episódios da sua viagem a Angola e confessou ter sido uma experiência emocionante devido aos contrastes de desenvolvimento que presenciou.
A psicóloga, embora reconheça que ainda há muito por fazer, olha com optimismo e esperança para as metas estabelecidas para cada Objectivo de Desenvolvimento do Milénio. Talvez não em 2015, mas superaremos estes desafios.